Cerveja gelada

Essa é "dasantiga" mesmo! Mas ficou bacana!



Mais do mesmo

"Ohh, ohh, sempre mais do mesmo
Não era isso que você queria ouvir?"

Agguas de Março - Octávio Camargo

Música de Octávio Camargo interpretada por mim. É assim mesmo, com dois "gs". A idéia é acrescentar novos elementos à algo já aprontado.

Jainismo: plural por princípio

JAINISMO: PLURAL POR PRINCÍPIO

Satish Kumar

O Jainismo é uma das maiores tradições religiosas da Índia, com milhões de adeptos, dezenas de milhares deles espalhados pelo mundo. Não-violência aos seres humanos, bem como aos outros animais, é uma das contribuições fundamentais do Jainismo para a filosofia como um todo. Mahatma Gandhi e Albert Schweitzer – para citar dois exemplos – foram em grande parte influenciados pela não-violência jainista, e uma das origens do vegetarianismo é também creditada ao Jainismo.
De acordo com biólogos jainistas, existem 8.4 milhões de espécies vivas na terra. Essa extraordinária lista de espécies foi feita pelos jainistas cerca de 2.000 anos atrás. Eles incluem águias, cisnes, baleias, tigres, elefantes, cobras, minhocas, bactérias, fungos, ar, água, fogo, rochas e tudo que é natural e vive. Jainistas são animistas – para eles, tudo que é natural tem vida e toda vida é sagrada. Todo tipo de dano a qualquer forma de vida é evitado ou minimizado. É claro que o sustento de uma forma de vida depende da morte de outra, ainda assim, os seguidores do jainismo são impelidos a limitar a morte de outras vidas, mesmo em se tratando da própria subsistência .
Os seres humanos são apenas uma das 8,4 milhões de espécies. Eles não têm mais direitos que os outros animais. Todo ser vivo, humano ou não humano, são iguais no direito de viver. Os humanos não só não têm o direito absoluto – exterminar, controlar ou subjugar outras formas de vida – como possuem obrigações extras, como a de praticar a não-violência e ser humilde diante do misterioso, glorioso, abundante e extraordinário fenômeno da vida da terra.
Existe uma estória que expressa bem a atitude jainista em relação aos animais. Certa vez Parshwanath, um jovem príncipe, chegando, na condição de noivo, com seu séquito nupcial à casa da noiva, viu próximo à casa alguns animais presos, sufocados pela falta de espaço, esperando o abate. Chocado pelo clamor dos animais o príncipe perguntou: “Por que esses animais estão amarrados em tão cruel condição?” Seus ajudantes responderam: “Eles são para o banquete da festa do casamento”.
O jovem príncipe foi tomado pela compaixão. Quando chegou ao salão do casamento ele dirigiu-se ao pai da princesa, dizendo: “Imediatamente e incondicionalmente todos esses animais enclausurados para serem abatidos para o banquete de casamento devem se libertados.” “Por que?”, respondeu o pai. “A vida dos animais existem para o prazer dos humanos. Os animais são nossos escravos e nossa comida. Como se pode fazer um banquete sem carne?!”
O príncipe Parshwanath ficou desnorteado. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele exclamou, “Os animais têm alma, eles têm consciência, eles são nossos amigos e parentes, eles são nossos ancestrais. Desejam viver tanto quanto nós, têm sentimentos e emoções. Eles têm amor e paixão. Temem a morte tanto quanto nós. Seu instinto de sobrevivência não é menor que o nosso. O direito deles de viver é tão fundamental quanto o nosso. Eu não posso me casar, eu não posso amar, eu não posso gozar a vida se animais são escravizados e mortos.” Sem mais delongas, ele rejeitou os preparativos para seu casamento, desvencilhou-se da vida confortável de um príncipe e respondeu ao seu chamado interior para ir acordar as massas adormecidas que se condicionaram a pensar egoistamente e a matar animais para o seu prazer e conforto.
De acordo com a estória, o reino animal reconhece Parshwanath como o profeta do fraco e do selvagem. Eles se reúnem ao redor dele quando este clama por bondade. Os pássaros se aconchegam sobre as árvore próximas. Os peixes se aproximam de Parshwanath, à beiro do lago, próximo de onde ele se senta. Elefantes, leões, raposas, coelhos, ratazanas, insetos e formigas prestam homenagem a ele. Um dia, encontrando Parshwanath ensopado pela implacável chuva da monção, o rei das serpentes, apoiando-se em sua cauda, criou um guarda-chuva com sua enorme cabeça.
Milhares e milhares de pessoas nas aldeias, vilarejos e cidades, são motivadas pelo pensamento de Parshwanath. Eles deixam de comer carne e de utilizar-se do trabalho dos animais. A princesa com quem Parshwanath iria se casar ficou tão inspirada que decidiu permanecer solteira e se dedicar, ela mesma, à caridade aos animais. Tendo perdido uma filha e um futuro genro para a causa dos animais, o rei superou a sua dor e experienciou a transformação. Ele anunciou que em seu reinado todos os animais deveriam ser respeitados, e que não mais deveria haver caçadas, disparos, encarceramentos, nem animais de estimação.
Existem vinte e quatro grandes libertadores na linhagem jainista. Adinath foi o primeiro. Parshwanath foi o vigésimo terceiro. Tais libertadores são chamadostirthankaras. O vigésimo quarto foi Mahavira, que viveu a 2.600 anos atrás. Ele retomou o Jainismo como ele é praticado hoje. Todos os vinte e quatro Grandes Libertadores são associados a um animal, o que simboliza que nos ensinamentos jainistas o lugar dos animais é central. Amor não é amor se ele não inclui amor aos animais, de acordo com os ensinamentos jainistas. Que tipo de compaixão é essa que adora e reverencia a vida humada, mas ignora a matança dos animais? Esse é o desafio dos jainistas.
Mahavira é chamado Jina, que significa conquistador dos inimigos interiores, tais como ego, orgulho, raiva e ilusão. Daí os seguidores de Jina chamarem-se “jainistas”.
Mahavira, nascido príncipe, simplesmente percebeu que existe mais a se fazer da vida do que a busca sem-fim por fama, fortuna e poder. Na verdade, fama, fortuna e poder são três vetores da “infelicidade”. Eles criam medo e seccionam a liberdade. Essa noção não foi baseada em teorias filosóficas ou puramente intelectuais; ela foi baseada em sua própria experiência. Ele trocou o reino pela floresta em busca de sabedoria, libertação e iluminação. Depois de uma longa vida de meditação e contemplação, Mahavira foi levado a concluir que existem três elementos essenciais que trazem a verdadeira liberação da alma. Ele os chamou de ahimsa (não-violência), sanyama (simplicidade), e tapas (prática da austeridade).

AHIMSA (não-violência)

Mahavira disse que a não-violência deve começar dentro da mente. A não ser que a mente esteja em sintonia, a não-violência não é possível. Somente havendo serenidade no mundo interior é que se poderá praticar a não-violência no mundo exterior. Se a mente estiver condenando outra pessoa, ainda que a boca emita doces palavras, então isso não é não-violência. As sementes da não-violência moram na consciência interior. Manter a consciência pura é, pois, parte essencial da não-violência jainista. Consciência pura quer dizer a consciência que não é corrompida, contaminada ou diluída pelo desejo de controlar os outros.
Por que nós somos violentos? Jainistas responderiam que é porque as pessoas querem controlar as coisas. Elas dizem: “Nós somos donos de tudo aqui. Esse mundo existe em nosso benefício. Os que comem carne dizem: “Os animais estão lá para nos servir de alimento.” “Tudo é para nós e nós somos os mestres da natureza.” Essa é a violência mental, que leva à violência física.
Mahavira viu o mundo como um lugar sagrado. Os pássaros, as flores, as borboletas e as árvores são sagrados; rios, terra e solo são sagrados. A vida como um todo é sagrada. Toda a nossa interação com as outras pessoas e com o mundo natural deve ser baseada nesta verdade sagrada, em profunda reverência a toda a vida. A não-violência da mente deveria ser transportada à não-violência da fala. A fala maldosa, dura, inverossímil, desnecessária e desagradável é violência. O sábio uso da linguagem é uma arte sagrada. A linguagem pode expressar apenas uma verdade parcial; enquanto que a não-violência é um guia essencial para as nossa palavras. Sendo assim, Mahavira presta um alto valor ao silêncio. Um monge jainista é chamado muni, que significa “aquele que é silencioso”. A não-violência da mente e da fala leva à não-violência dos atos. Os fins não podem justificar os meios. Os meios devem ser compatíveis com os fins. Desta maneira, toda a ação humana dever ser amistosa, compassível e não-agressiva. Não faça o mal. Sem restrições, sem essa de “mas”ou “se”. Sem meio termo. A não-violência de Mahavira é o incondicional amor a todo o ser vivente.
A não-violência é, portando, o principio primordial dos jainistas. Todos os outros princípios ramificam-se a partir da não-violência. Porque toda a vida é sagrada, nós não podemos violar ou tomar vantagem dessas formas de vida que podem ser mais fracas do que nós. Ahimsa é muito mais do que “Viva e deixe viver”: é “Viva e ame”.

SANYAMA (simplicidade ou viver dentro dos limites)

O segundo princípio é sanyama, que significa simplicidade: auto-moderação, suficiência e frugalidade.
Satisfazer-se com pouco é sanyama. A ideia de que o que quer nós tenhamos - ou quanto nós tenhamos - nunca é o suficiente é fonte de angustia. Os jainistas são orientados a ir do “mais e mais” ao “basta!”.
Para os jainista não existe nada faltando no mundo. Há a abundância da natureza. Quando nós queremos possuir e controlar, nós criamos a escassez. Nós não podemos possuir tudo, por isso sempre queremos mais. A possessividade é a fonte da escassez. No momento em que nos satisfazemos e não desejamos mais controlar e possuir, então temos abundância. Paradoxalmente, a Abundância, de acordo com os jainistas, esta disponível apenas aos que aprendem a viver dentro dos limites de suas necessidades.

TAPAS (A prática espiritual de purificação, austeridade, sacrifício e jejum.)

O princípio de tapas (literalmente “calor”), ou auto-purificação, é também uma das mais significantes contribuições do Jainismo. Da mesma maneira com que o ser humano purifica o seu corpo físico, ele também precisa purificar a sua alma. A mente se torna poluída com maus pensamentos. A consciência é contaminada pelo ego, ganância, orgulho, raiva e medo. As almas sofrem por causa dos seus desejos, apegos e angustias. Mahavira criou, então, caminhos para purificar a mente, a alma e a consciência, chamando-os tapas. Jejum, meditação, comedimento, peregrinação e filantropia encontram-se dentro da categoria de tapas. É um tipo de exercício da alma para manter o mundo interior saudável e puro.
Há quatro práticas, as quais todo jainista aspira, a fim de alcançar a liberação interior. A primeira é satya (verdade), que significa entender e perceber a verdadeira natureza da existência e a verdadeira natureza de si mesmo. Isso significa aceitar a realidade como ela é e ser verdadeiro a ela, vendo as coisas como elas são, sem julgá-las boas ou más. Quer dizer “não minta” no seu sentido mais profundo: não tenha ilusões a respeito de si mesmo. Encare a verdade sem medo. As coisas são como elas são. Uma pessoa que busca a verdade vai além da construção mental e percebe a existência como ela é.
Viver em verdade significa que nós evitemos manipular as pessoa e a natureza, porque não existe uma única verdade, que toda mente possa deter ou toda língua possa expressar. Ser verdadeiro significa ser humilde e aberto a novas descobertas, e ainda aceitar que não existe uma descoberta final. Qualquer indivíduo ou grupo que declara conhecer toda a verdade esta, por definição, cercado pela mentira.
Finalizando: a existência é um grande mistério.
O segundo é asteya (não-roubar), que significa abster-se de adquirir bens ou serviços além das necessidades essenciais. É difícil saber o que são as necessidades essenciais, o jainismo pede que nós avaliemos, examinemos e questionemos, dia a dia, o que é a nossa necessidade e o que é a nossa ganância. A distinção entre necessidade e ganância pode ser flutuante, então o exame da necessidade deve ser feito com honestidade. O princípio de asteya inclui “Não roube”. O entendimento jainista disto vai além da definição legal. Por exemplo, devastar uma floresta inteira pode ser visto como a violação dos direito da natureza, um roubo. Da mesma maneira, tirar da sociedade moradia, comida, vestimenta além das necessidades essenciais significa privar outras pessoas e é, portanto, um roubo. Se nós estamos usando recurso finitos mais rapidamente do que eles podem regenerar-se, então nós estamos roubando das futuras gerações.
Os jainistas doam e depois recebem. Receber antes de doar é “roubo”.
O terceiro é bramacarya. Esse princípio tem sido estreitamente associado à conduta sexual apropriada: bramacarya é amar sem luxúria. Para os monges,bramacarya significado total abstinência e para os leigos (jainista não monge) significa fidelidade dentro do casamento. Todo pensamento, fala, ou ato que diminua, degrade, ou abuse do corpo é contra os princípios de bramacarya. O corpo é o templo do puro ser, então não deveríamos nos encarregar de nenhuma atividade que possa macular o templo do corpo.
A quarta prática é aparigraha (não-possessividade), que significa o não-acúmulo de bens materiais. Se ninguém detêm ou acumula nada, então ninguém será privado de nada. Aparigraha significa compartilhar e viver sem ostentação, sem exibir riqueza. Roupas, comida e mobilha devem ser simples, elegantes, e mínimos. “Simples em meios, rico em fins”, é a prática jainista. Quando nós despendemos muito tempo com o cuidado de nossas posses não há muito tempo para o cuidado da alma.
Aparigraha significa não adquirir o que é desnecessário, percebendo que o que quer que você adquira vai lhe colocar amarras. Liberte-se da coisas não essenciais e você será libertado. Para os jainista é um imperativo moral viver em simplicidade para que os outros possam simplesmente viver.
Existem cerca de quatro milhões de jainistas, a maioria vive no Norte da Índia. Fora da Índia encontramos jainistas no Leste da África, Grã-Bretanha e Estados Unidos, quase todos estes de origem indiana. Eles acreditam que não há uma verdade única, há várias verdades. Esse sistema de múltiplas verdades é conhecido como Anekant, que significa, simplesmente, nenhuma conclusão, nenhuma realidade única, nenhum deus. Nem monismo, nem dualismo, mas pluralismo é o coração da filosofia jainista.
Alguns jainista adoram imagens. Eles construíram enormes templos de extraordinária beleza e intricada arquitetura. Templos como o de Ranakpur, ou como os do monte Mt. Abu, no Rajaquistão, são exemplos supremos de conquista escultural e artística. Há outros janistas, ainda, que não adoram imagens. A construção de templos e rituais de adoração à imagens são demasiado mundanos para eles. Eles são, pois, os minimalistas do jainismo e preferem o caminho da meditação.

Trad. Josemar Vidal Jr.

Leitura Complementar:

- Texto original: http://www.resurgence.org/satish-kumar/articles/jain-religion.html
- Sobre Anekantavada: http://es.wikipedia.org/wiki/Anekantavada
- Sobre Jainismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jainismo

No pé da letra

As coisas que devem ser feitas.

Vestida de verde

Uma canção minha. "Quem será?"