Odeon (Ernesto Nazareth) - PDF

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Josemar Vidal de Oliveira Junior


eu sou

eu sou
aquilo que faço
quando não tenho nada pra fazer

Sobre a Empatia Incondicional

Sobre a Empatia Incondicional
Para Satish Kumar, a empatia é o princípio organizacional da vida

Satish Kumar

Nos último 10 anos, tenho visitado a ilha de Maiorca, a convite de meu amigo Guillem Ferrer. Certa vez, ele me pediu para falar sobre um ideal que guiasse as minhas atividades. Eu disse que a coisa mais importante na minha vida era a amizade. Todo meu trabalho vem da amizade.

A amizade é o meu principio primordial, o ganha-pão da minha vida. Vivo através da amizade. Para mim, a amizade é a qualidade espiritual suprema. A amizade é incondicional – não há desculpas. A amizade não tem motivo. Você não diz: eu sou seu amigo porque você é isso ou aquilo. Por que você é culto, rico, inteligente, bonito, ou “bom de papo”. Essas coisas não vêm a sua mente. Você tem um amigo por que você quer ser um amigo. Amizade diz respeito a aceitação, não a expectativa. Você presenteia e é presenteado. A amizade tem suas raízes na profunda gratidão.

Na amizade, diz-se apena “sim”. Quando um amigo pede alguma coisa é difícil dizer não. Se algum amigo me pede ajuda, eu digo “sim”. E se eu peço algo a um amigo, ele me diz “sim”.

Minha amizade não é direcionada apenas aos seres humanos. Eu também sinto amizade para com a Natureza. Sou um amigo do meu lar e do meu jardim. Amigo das árvores e das flores. Das abelhas. Amigo de cada minhoca, lesma e caracol. As ervas-daninhas são minhas amigas. Amizade é um termo que a maioria das pessoas usa apenas para as relações humanas, mas eu uso num sentido mais amplo.

Meus filho são meus amigos. Na Índia, dizemos que quando um filho completa 16 anos ele não é mais seu filho: é seu amigo. “Amigo” é melhor que “filho” ou “filha”, porque “filho” ou “filha” são termos que carregam expectativas. Espera-se algo dos filhos. Eles esperam algo dos pais. Como amigo, você não espera nada. Você os trata com respeito. Da mesma maneira acontece com minha esposa. Ela é minha amiga. Não temos uma relação de posse. O amor liberta. Não há nenhuma imposição, nem amarra numa união vista dessa forma.

O vilarejo em que eu vivo é meu amigo. Eu o aceito como ele é. Não incorro em julgamentos. Amo seu povo, seus vales e árvores. Amo a paisagem natural. Como vivo perto do oceano, tenho o oceano como meu amigo também. Dessa forma, todo o planeta é meu amigo e, por que não, todo o mundo. Toda transformação que eu tento fazer em minha vida, em minha sociedade e no mundo, faço-a com um sentimento de amizade. O mundo é belo, mas, dentro dele, criamos alguns sistemas que precisam ser reformulados. Minha casa é minha amiga, portanto eu a limpo, conserto, pinto, porque depois de um tempo ela precisa de reparos e de reformas. Meu jardim precisa de reformas. Da mesma forma, a política precisa de reforma. Sendo assim, eu trabalho para criar renovação na política e renovação na economia.

Quando meu corpo precisa se reparar e se curar, eu procuro repará-lo e curá-lo. O mundo é meu corpo e a sociedade é meu corpo. Nesse sentido, meu trabalho é o de um curador amigo. Meu trabalho na Small School1 é um trabalho de amizade para com as crianças. Meu trabalho na revista Resurgence & Ecologist é um ato de amizade com os leitores. Meu trabalho no Schumacher College é um ato de amizade para promover ecologia e espiritualidade no mundo. Com meditação, boa comida e relaxamento, eu curo meu corpo. Quando estou elétrico e cansado, digo ao meu corpo: vamos com calma, relaxe e durma um pouco. Da mesma forma digo à sociedade: durma um pouco, diminua o ritmo, não trabalhe tão duro e tão depressa. Buda disse: “Se você traça sua rota com pressa e sob pressão, você se perde no caminho.”

Na amizade, não há expectativas, nem apego, porque esses dois sentimentos levam à frustração. Eu vivo com leveza e pratico o desapego. Dessa forma, posso me manter em movimento: não estou preso, não há amarras. O desapego traz liberdade. Todo meu trabalho tem a sua raiz na profunda amizade pelas pessoas e pelo mundo. Eu e o mundo somos um. Quando estou trabalhando pela transformação do mundo, trabalho pelo transformação de mim mesmo. Quando expando a minha consciência, torno-me um ser maior, um “eu” universal. Nesse corpo, sou um microcosmo de um macrocosmo.

Então, é como amigo que digo ao senhor Obama: “Olhe para o senhor Putin e o veja como um amigo, para que os vossos conflitos se resolvam”. Eu digo ao senhor Putin: “Trate todos os ucranianos como seus amigos. Você é cristão. O que Jesus disse? “Amai-vos uns aos outros”. Eu digo ao senhor Netanyahu: “Vocês estão em guerra com os palestinos nos últimos 70 anos, o que conseguiram? Tentem, ao menos uma vez, a paz com a Palestina, para ver o que acontece. Através da amizade o sofrimento é atenuado”. Eu aconselho os palestinos: “Os judeus estão no exílio há 2000 anos. Agora, eles devem voltar para casa. Juntos vocês podem transformar a Palestina numa terra próspera”.

A melhor maneira para se ter amigos é sendo um amigo. A amizade é a resposta mais simples e direta para nossas agonias, ansiedades e angustias.

No campo da amizade, com minhas mãos humildes, enterro as sementes do amor. Espalho o adubo da ternura e irrigo o solo da minha alma, com a água da generosidade. Sou, enfim, abençoado com a fragrância do contentamento e os frutos da liberdade. Eu sou profundamente grato aos presentes que a vida me deu todos os dias. É agradável ser um amigo e uma benção ter amigos.

Com amizade e sinceridade em meu coração, caminhei mais de 12.000 quilômetros ao redor do mundo, sem um tostão no bolso. Caminhei por países comunistas, capitalistas, muçulmanos, cristãos e, por todo lugar que passei, obtive alimento, abrigo e amor. Se eu tivesse saído como um indiano, iria encontrar um paquistanês ou um russo. Se tivesse andado como um hindu, encontraria cristãos e muçulmanos. Mas eu viajei como um ser humano e encontrei seres humanos em toda parte. Minha caminhada foi um ato de amizade.

Se somos russos ou americanos, judeus ou muçulmanos, xiitas ou sunitas, comunistas ou capitalistas, não importa o rótulo, somos, antes de mais nada e acima de tudo, seres humanos. Nossa identidade humana se sobrepõe às demais. É por isso que precisamos construir nossas relações, tanto pessoais, políticas ou ecológicas, sobre os fundamentos da amizade.

Quando Buda estava dando o seu último suspiro, Ananda o perguntou: “Como o senhor gostaria de reencarnar na próxima vida?” Buda respondeu: “Não como um profeta, um mestre, nem mesmo uma pessoa, mas como maitreya. Quero ser reencarnado como amizade, empatia e candor.

A amizade é o único ingrediente capaz de unificar a humanidade. Através da filosofia da amizade, percebemos, de verdade, que estamos todos conectados, relacionados, que somos interdependentes. O planeta Terra inteiro é nossa casa e somos membros dessa singular comunidade terrestre e da singular família humana.

Você pode me chamar de idealista. Sim, eu sou um idealista. O que os realistas conseguiram? Guerras? Pobreza? Mudanças Climáticas? Os realista têm governado o mundo há séculos e falharam na conquista de paz e prosperidade a todos. Então, porque não dar a chance aos idealistas e permitir que a amizade seja o princípio organizacional do nosso mundo? Podemos não ser, totalmente, bem-sucedidos. Podemos não alcançar a utopia, mas que nos seja permitido maximizar o poder da amizade e minimizar a força dos conflitos. Vale a pena tentar.

Trad.: Josemar Vidal Jr.

NOTAS:

1 Pequena escola criada por Satish Kumar, em Hartland, Devon. Tem capacidade máxima para 40 alunos, dos 11 à 16 anos.

dormir...

dormir
    quebrar a barreira do sono
            cruzar a linha de partida

entre o descanso
e o ócio
insisto

Mahavira, o "Buda" do Jainismo

Mahavira, o "Buda" do Jainismo


Sree Chitrabhanuji

Ilustração da parábola dos "cegos e do elefante",
usada para explicar o conceito de Anekantavada.
Tanto a violência como a não-violência começam por etapas. Os passos iniciais são sutis e se desenvolvem, pouco a pouco, em grandes atos de conflito ou compaixão.

Quando Nelson Mandela foi libertado da prisão, algumas pessoas o incentivaram a acertar as contas com quem lhe havia tratado de forma tão errônea – mas ele se recusou a ser dominado pelo ódio. Argumentou que, por muito tempo, já havia sido um prisioneiro de seus oponentes, fisicamente falando, e que não queria passar o resto de sua vida sendo um prisioneiro emocional.

O velho Mandela entendeu que, para projetar a raiva adiante, é preciso antes queimar-se por dentro; para impingir violência a outrem é preciso antes agir com violência a si próprio. Ao queimar o detentor do fogo, as chamas do ódio podem consumir a sua própria fonte, antes do adversário. Nos dias de hoje, se buscamos conquistar nossas emoções mais básicas, precisamos aprender com os exemplos de pessoas como Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, que forjaram escolhas a partir do calor das batalhas mais tempestuosas da vida.

A ideia de ahimsa (ou não-violência) é uma ideia emancipadora. Não é apenas um conceito. Ela começa como um simples sentimento e pode crescer até abranger todas as esferas de uma vida. A ideia se metamorfoseia em sentimento. É esse sentimento que transforma o nosso em redor. A vida de Verdhamana Mahavira foi um exemplo de tal auto-realização. Ele inspirou outros com a sua maneira de ser, transmitindo sabedoria sem doutrinação.

Dessa maneira o verdadeiro conhecimento se faz possível. Uma pessoa com raiva abre sua boca e fecha seus olhos. É a nossa mente que precisa de controle. As guerras, eles dizem, começam nas mentes dos homens. Então, é lá que a paz precisa ser conquistada. Nossos sábios compreenderam essa simples verdade séculos atrás. Mahavira, um dos Tirtankharas, praticou o verdadeiro ahimsa sem pregar ao mundo.

Mahavira entendeu as raízes da violência na psiquê humana. Seu alerta, por conseguinte, foi contra o absolutismo e o dogmatismo. Sua enfase no conceito de Anekantavada foi um clamor ao reconhecimento da multifacetada natureza da realidade. A percepção da realidade depende do tempo, lugar, natureza e estado do observador. A verdade absoluta não pode resultar do ponto de vista de apenas uma pessoa. Absolutismo, para ele, era um ato de violência mental. Relativize o absoluto, ele pedia. Buscava o respeito de diferentes sistemas de crenças.

Anekantavada é a visão na qual o paradoxo dos opositores é integrado. Se olhamos para as coisas com equilíbrio, vamos descobrir que os opostos são complementares uns aos outros. Sem opostos, não há crescimento e consciência. Quando estamos cientes do ciclo dos opostos não os vemos como opostos, mas como algo compatível com o crescimento. Isso nos permite um relacionamento aberto com o mundo.

Mahavira falou sobre o impulso insensato de acumulação e em como isso engendra um sistema de violência em nossas vidas. Ele não era utópico ou fora da realidade. Ele queria que crescêssemos além do limite da ganância para abrir a possibilidade de transcendência de nossa linearidade. É apenas a transcendência do ego, que gera grande empatia, que podemos considerar como um grande princípio.

A compaixão de Mahavira se estendeu, além da humanidade, para todas as formas de vida. Tal posição o fez um irmão distante dos ambientalistas contemporâneos e dos ativistas dos direitos dos animais. Mahavira fala conosco no presente. Não é através do terror ou de bombas aéreas que vamos fazer do mundo um lugar mais seguro. Podemos fazer um lugar mais seguro transformando as consciências. Para essa transformação precisamos considerar a gentil e curativa mensagem de Mahavira.

arte

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em toda parte
entorpecente

Violência e mudanças climáticas

Violência e mudanças climáticas

Instabilidade social e fome, super-tempestades e secas. Lugares, espécies e seres humanos – ninguém vai escapar. Bem-vindo ao “Ocupe a Terra”.

Rebecca Solnit

Se você for pobre, a única maneira de você machucar alguém é através do tradicional e antigo método, violência artesanal, ou seja: pelas mãos, com faca, com ripa, ou, talvez, uma forma de violência moderna, mais eficaz, com um revólver ou um carro.

Mas se você for estupidamente rico, você pode praticar violência em escala industrial, sem precisar sujar as mãos, literalmente falando. Pode construir, digamos, uma fábrica escravocrata em Bangladesh pronta para desmoronar e matar mais pessoas que um assassínio em massa, ou pode calcular os riscos e os benefícios de espalhar artefatos venenosos e inseguros pelo mundo, como os fabricantes fazem todos o dias. Se você é líder de um país, pode declarar guerra e matar centenas de milhares (ou milhões) de pessoas. E os superpoderosos nucleares – Estados Unidos e Rússia – ainda têm a opção de destruir boa parte da vida na terra.

Assim fazem os barões do petróleo. Mas quando falamos em violência, quase sempre falamos da violência vinda de baixo, não de cima.

Foi mais ou menos o que eu pensei quando recebi um comunicado, na última semana, de um grupo ligado ao clima anunciando: “cientistas afirmam que há uma relação direta entre mudanças climáticas e o aumento da violência”. O que os cientistas disseram, de fato, num artigo sem muitas novidades da Nature, de um ano e meio atrás, é que há mais conflitos nos trópicos em anos de El Niño, e que isso talvez vá se escalonar fazendo da nossa era de mudanças climáticas também uma era de conflitos.

A mensagem é de que o cidadão médio vai se comportar mal numa era de mudanças climáticas acentuadas.
Tudo isso faz sentido, a menos que você retroceda a premissa e perceba que mudança climática é, em si, uma forma de violência. Extrema, terrível, duradoura, ampla violência.

A mudança climática é antropogênica – causada por humanos, alguns mais que outros. Nós sabemos as consequências dessas mudanças: a acidificação dos oceanos e o declínio da maioria das espécies que vivem neles, o lento desaparecimento de ilhas-nações, como é o caso das Maldivas, o aumento de inundações, secas, a quebra na produção agrícola, o que leva ao aumento do preço dos alimentos e à fome, aumento da instabilidade climática. (É só pensar no furacão Sandy e no recente tufão nas Filipinas. Nas ondas de calor que mataram idosos aos milhares).

Mudança climática é violência.

Portanto, se nós queremos conversar sobre violência e mudanças climáticas – e nós estamos falando sobre isso, depois do informativo aterrador da última semana, vindo dos melhores cientistas climáticos do mundo – então vamos falar sobre mudanças climáticas como violência.

Ao invés de nos preocuparmos se os homens e mulheres comuns vão reagir com turbulência à destruição de seus meios de sobrevivência, vamos nos preocupar com essa destruição – e com a sobrevivência. Obviamente a escassez de água, as péssimas colheitas, inundações, entre outras coisas, vão desencadear migrações em massa e refugiados climáticos – eles já existem – e isso vai gerar conflitos. Esses conflitos estão entrando em ação, agora.

Você pode considerar a Primavera Árabe, em parte, como uma conflito climático: o aumento no preço do trigo foi um dos gatilhos para a série de revoltas que mexeram com o norte da África e com o Oriente Médio. Por um lado, você poderia dizer “que bom que essas pessoas não estão passando fome”. Por outro, como pode não dizer “quão grave é essa situação, que fez pessoas se insurgirem, desprovidas de garantias e esperança”. E, finalmente, é preciso olhar para o sistema que criou a fome – a descomunal desigualdade econômica em lugares como o Egito e a brutalidade usada para conter os manifestantes.
As pessoas se revoltam quando suas vidas estão insuportáveis. Por vezes, a realidade material cria essa sensação: secas, pragas, chuvas, inundações. Mas alimentação e assistência médica, saúde e bem-estar, moradia e educação – tudo isso é governado por relações econômicos e políticas governamentais. O “Occupy Wall Street” estava focado nisso.

As mudanças climáticas vão aumentar a fome, uma vez que o preço dos alimentos vai subir e a produção alimentar decrescer, mas nós já estamos promovendo a fome na Terra, e boa parte disso não é devido a falhas da natureza ou dos agricultores, mas por causa dos sistemas de distribuição. Nos Estados Unidos, cerca de 16 milhões de crianças vivem hoje com fome, de acordo com o Departamento de Agricultura americano, e isso não acontece porque o vasto e rico setor agrícola estadunidense não consegue alimentar a todos. Nós somos um país cujo sistema de distribuição é, ele mesmo, um tipo de violência.

As mudanças climáticas não vão, repentinamente, trazer uma era de distribuição equânime. Creio que as pessoas vão se revoltar, no futuro, contra o que elas se revoltaram no passado: as injustiças do sistema. E elas precisam se revoltar, e nós precisamos nos alegrar com isso, já que não podemos ter a alegria de não precisar fazê-lo. Um dos eventos propulsores da Revolução Francesa foi a falência da colheita de trigo, em 1788, o que fez o preço do pão ir às alturas e os pobres passarem fome.

Na mesma semana em que recebi o infeliz comunicado sobre clima e violência, o Grupo ExxonMobil divulgou um relatório de políticas. Uma leitura entediante, a não ser que você possa transformar a seca linguagem mercadológica em imagens das consequências dos atos perpetrados em função exclusiva do lucro. Como observa o relatório:

Nós estamos confiantes de que nenhuma de nossas reservas de hidrocarboneto estão ou irão 'encalhar'. Nós acreditamos que produzir esses bens é essencial para manter a crescente demanda de energia no mundo”.

Bens encalhados significa reservas de hidrocarboneto – carvão, óleo, gás – que podem perder o seu valor se for decidido que eles não devem mais ser extraídos e queimados num futuro próximo. Pois os cientistas dizem que precisamos deixar as reservas de petróleo debaixo da terra, se quisermos nos deparar com versões mais brandas das mudanças climáticas. Na versão branda, incontáveis pessoas e espécies vão sobreviver. No cenário otimista, o colapso da terra vai ser menor. O que se discute agora é quanto devastar a Terra.

Em qualquer atividade, é preciso observar a escala industrial e a violência sistêmica, não apenas a violência dos desapoderados, feita com as próprias mãos. Quando trazemos à tona as mudanças climáticas, isso soa particularmente verdadeiro. Exxon decidiu apostar na ideia de que não podemos fazer a corporação manter as suas reservas intactas e a companhia está tranquilizando seus investidores, pois eles vão continuar lucrando em cima da destruição da Terra, imediata e violenta.

Mas esse bordão já se tornou exaustivo, “a destruição da Terra”. Traduza-o para crianças famintas e terras inférteis – e depois multiplique alguns milhões de vezes. Ou apenas mentalize os pequenos bivalves: ostras, vieiras, caracóis que, no momento, não conseguem formar as suas carapaças por causa da acidificação dos oceanos. Ou pense em outra super-tempestade arrasando mais uma cidade. Mudança climática é violência em escala global, contra regiões e espécies, bem como contra seres humanos. Apenas chamando as coisas pelo seu verdadeiro nome é que podemos começar a ter um diálogo franco sobre nossas prioridades e valores. Porque a revolta contra a brutalidade começa com a revolta contra a linguagem que mascara essa brutalidade.


Trad. Josemar Vidal Jr.