Mahavira, o "Buda" do Jainismo

Mahavira, o "Buda" do Jainismo


Sree Chitrabhanuji

Ilustração da parábola dos "cegos e do elefante",
usada para explicar o conceito de Anekantavada.
Tanto a violência como a não-violência começam por etapas. Os passos iniciais são sutis e se desenvolvem, pouco a pouco, em grandes atos de conflito ou compaixão.

Quando Nelson Mandela foi libertado da prisão, algumas pessoas o incentivaram a acertar as contas com quem lhe havia tratado de forma tão errônea – mas ele se recusou a ser dominado pelo ódio. Argumentou que, por muito tempo, já havia sido um prisioneiro de seus oponentes, fisicamente falando, e que não queria passar o resto de sua vida sendo um prisioneiro emocional.

O velho Mandela entendeu que, para projetar a raiva adiante, é preciso antes queimar-se por dentro; para impingir violência a outrem é preciso antes agir com violência a si próprio. Ao queimar o detentor do fogo, as chamas do ódio podem consumir a sua própria fonte, antes do adversário. Nos dias de hoje, se buscamos conquistar nossas emoções mais básicas, precisamos aprender com os exemplos de pessoas como Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, que forjaram escolhas a partir do calor das batalhas mais tempestuosas da vida.

A ideia de ahimsa (ou não-violência) é uma ideia emancipadora. Não é apenas um conceito. Ela começa como um simples sentimento e pode crescer até abranger todas as esferas de uma vida. A ideia se metamorfoseia em sentimento. É esse sentimento que transforma o nosso em redor. A vida de Verdhamana Mahavira foi um exemplo de tal auto-realização. Ele inspirou outros com a sua maneira de ser, transmitindo sabedoria sem doutrinação.

Dessa maneira o verdadeiro conhecimento se faz possível. Uma pessoa com raiva abre sua boca e fecha seus olhos. É a nossa mente que precisa de controle. As guerras, eles dizem, começam nas mentes dos homens. Então, é lá que a paz precisa ser conquistada. Nossos sábios compreenderam essa simples verdade séculos atrás. Mahavira, um dos Tirtankharas, praticou o verdadeiro ahimsa sem pregar ao mundo.

Mahavira entendeu as raízes da violência na psiquê humana. Seu alerta, por conseguinte, foi contra o absolutismo e o dogmatismo. Sua enfase no conceito de Anekantavada foi um clamor ao reconhecimento da multifacetada natureza da realidade. A percepção da realidade depende do tempo, lugar, natureza e estado do observador. A verdade absoluta não pode resultar do ponto de vista de apenas uma pessoa. Absolutismo, para ele, era um ato de violência mental. Relativize o absoluto, ele pedia. Buscava o respeito de diferentes sistemas de crenças.

Anekantavada é a visão na qual o paradoxo dos opositores é integrado. Se olhamos para as coisas com equilíbrio, vamos descobrir que os opostos são complementares uns aos outros. Sem opostos, não há crescimento e consciência. Quando estamos cientes do ciclo dos opostos não os vemos como opostos, mas como algo compatível com o crescimento. Isso nos permite um relacionamento aberto com o mundo.

Mahavira falou sobre o impulso insensato de acumulação e em como isso engendra um sistema de violência em nossas vidas. Ele não era utópico ou fora da realidade. Ele queria que crescêssemos além do limite da ganância para abrir a possibilidade de transcendência de nossa linearidade. É apenas a transcendência do ego, que gera grande empatia, que podemos considerar como um grande princípio.

A compaixão de Mahavira se estendeu, além da humanidade, para todas as formas de vida. Tal posição o fez um irmão distante dos ambientalistas contemporâneos e dos ativistas dos direitos dos animais. Mahavira fala conosco no presente. Não é através do terror ou de bombas aéreas que vamos fazer do mundo um lugar mais seguro. Podemos fazer um lugar mais seguro transformando as consciências. Para essa transformação precisamos considerar a gentil e curativa mensagem de Mahavira.

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